O Grémio Lisbonense.

O Grémio Lisbonense, é uma associação cultural e recreativa, fundada em 1842, que fica em plena Praça do Rossio, mesmo por cima do Arco do Bandeira, num edifício de traça pombalina.

Palavra de origem latina, gremium significava protecção, auxílio, regaço, permanecendo estas ideias no seu campo semântico até à actualidade. Pode dizer-se que o grémio literário (tal como o cenáculo, a pleiâde e a tertúlia), enquanto grupo artístico-cultural, deriva da fundação das primeiras academias tendo contudo, um âmbito mais restrito.

Esta associação é criada e dirigida por artistas que procuram fazer face ao desinteresse da sociedade e do Estado pela arte. Visa promover a cultura organizando exposições e certames artísticos, protegendo igualmente outras áreas como a medicina ou as ciências puras e aplicadas, dependendo dos objectivos propostos na fundação do clube.

Em Portugal, o século XIX revela-se rico na criação dos Grémios, encontrando-se uma possível explicação para o facto, na necessidade que os artistas sentiram em abandonar o marasmo cultural e social da época.

Em 1846 foi fundado em Lisboa pela Rainha D. Maria II o Grémio Literário que comportava sócios em seis classes diferentes: Ciências Físicas e Matemática, Engenharia e Arte Militar, História Natural, Medicina, Ciências Morais e Política, Literatura e Belas Artes.

Aí eram realizadas Conferências Científicas e Literárias, sendo a instituição frequentada mais tarde pelo grupo dos Vencidos da Vida. É neste Grémio que se planeia igualmente o jantar de Cohen, na obra de Eça de Queirós, Os Maias.

Também no final do século XIX surge o Grémio Artístico, fundado por um grupo de pintores acongregados em torno de Silva Porto (inicialmente chamado Grupo do Leão) que organizam programas de Letras e Artes estimulando a produção de novas obras e recorrendo a saraus, banquetes e exposições.

A 26 de Outubro de 1842 foi fundado o Grémio Lisbonense inicialmente denominado Academia Fraternal Harmónica, com cariz meramente recreativo. Em comum, todas estas instituições partilham o facto de terem sido fundadas por grupos de pessoas com objectivos comuns que se regem por estatutos específicos. Contudo, o carácter essencialmente cultural é muitas vezes ultrapassado pelo aspecto social e lúdico que anima os serões dos Grémios: o whist, o bilhar, o gamão e a leitura de jornais tornam-se ocasionalmente imperiosos no ventre da sede.

por Dulce Gonçalves

 

 

A Câmara de Lisboa emitiu um parecer positivo, em Novembro, para decretar a utilidade pública do Grémio Lisbonense.

A direcção do Grémio Lisbonense solicitou entretanto uma reunião com carácter de urgência ao presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), na tentativa de resolver o problema da ordem de despejo da organização, decretada por tribunal no ano passado, disse a advogada da instituição Paula Alves de Sousa.

A representante da organização disse que «a direcção do Grémio será recebida pela vereadora da Cultura», Rosália Vargas, a quem António Costa delegou o acompanhamento deste caso.

A organização depara-se agora com outro problema, em caso de despejo: a falta de instalações onde colocar «os 166 anos de espólio histórico», como documentos, livros, móveis e a cadeira de barbeiro que ainda hoje funciona, explicou a advogada do Grémio.

O Grémio Lisbonense tem apelado a entidades públicas e a diversas personalidades para «salvar» a organização da ordem de despejo, alegando que se perderá o património cultural e histórico da instituição bem como o apoio a idosos e desfavorecidos a quem presta apoio.

Os vereadores do PCP Rita Magrinho, do PSD Fernando Negrão, e do Movimento de Cidadãos por Lisboa Helena Roseta manifestaram publicamente preocupação com a situação do Grémio Lisbonense.

Fundado a 26 de Outubro de 1842, o Grémio Lisbonense foi distinguido com o grau de comendador da Ordem de Benemerência pelo então Presidente da República Óscar Carmona, no ano em que comemorou o primeiro centenário (1942), e com a medalha de mérito «Grau Prata» da cidade de Lisboa pelos serviços prestados à comunidade.

Da história da instituição fazem parte nomes como o de Agostinho da Silva, Sam Levi, Mestre Lagoa Henriques, Mestre Lima de Freitas, Maestro José Atalaia, Ferreira da Silva e do pedagogo João Lopes Soares, que tem uma placa comemorativa da sua passagem pelo Grémio em 1970.

O edifício onde está instalado o Grémio Lisbonense destaca-se pela «varanda da Santa Inquisição», por cima do Arco do Bandeira, virada para a Praça do Rossio, que foi mandada construir pelo Marquês de Pombal, após o terramoto de 1755.

Fonte: Lusa / SOL

 

 

Apesar da petição colocada online contra o despejo do Grémio, o Grémio Lisbonense recebeu hoje uma ordem de despejo. Às 20h, a PSP interveio e atingiu à bastonada sócios e amigos da associação. A notícia está aqui.